quinta-feira, 4 de setembro de 2008

16 - POSSO OU DEVO?

(homenagem à minha saudosa mãe Elzira Bonfante)


---------------------
Se me amais, guardareis
os meus mandamentos. (Jo 14:15)

Perguntei a um jovem: "como está a sua comunhão com Deus?" Ele me respondeu,
com ares de quem não sente a menor crise de consciência: "Não posso dizer
que vai bem, mas o básico eu faço: oro antes de dormir e leio um versículo
da bíblia, pelo menos". Pobre garoto! Engana-se a si mesmo! Tal relação
espiritual em muito se assemelha aos casais de namorados, com relacionamento
em estágio terminal: não há o que conversar, não há o que comentar, só se
pede, nada se dá, e a culpa é sempre do outro. Para o menino, Deus ainda
deveria estar muito contente de haver um rapaz que lê um "versiculosinho" ou
que faz uma "oraçãozinha-merreca" antes do ronco. É mais um jovem
evangélico, a demonstrar, de forma grotesca e rústica, a péssima qualidade
espiritual da igreja do século XXI.

Quando não há comunhão, a grande questão é: "até onde será que eu posso ir?
Posso beber? Posso fumar? Posso ficar? Posso transar? Quantas vezes eu posso
pedir perdão pelo mesmo pecado? Se ninguém ver, estará tudo bem? Será que
não é apenas preconceito, uso e costumes, questões culturais?" Aquele que
vive um estado espiritual meramente vegetativo, caça brechas, nas quais
possa enquadrar-se como alguém menos pecador do que realmente é. É a vontade
de auto-justificar-se à todo custo. Seu cristianismo é pura tradição.

Quando há comunhão, a questão é outra. Não se pergunta: "posso fazer isso?",
mas "devo fazer isso? Será que edifica? Será que é construtivo? Isso
beneficiará a mim e aos demais? Não será motivo de escândalo? E se um irmão
mais fraco me vir assim, estaria eu em paz comigo mesmo e com Deus? O que
quero está baseado no amor altruísta?" No coração do legítimo comungante, a
glória de Deus e a edificação do próximo vêm em primeiro lugar. O gosto
pessoal passa por esses crivos. E as decisões são baseadas nisso, mediante a
revelação contida nas Escrituras Sagradas. É a chamada "lei da liberdade em
amor", mencionada por Tiago, em sua epístola.

Para Cristo, quem o ama guarda os seus mandamentos. E quem não o ama, não
guarda. É simples, não? Alguns considerariam simplista, mas não é. Deus é um
ser definido. Não há morno, mas quente ou frio. Não há talvez, mas sim ou
não. Não há purgatório, mas céu ou inferno. Deus é tão claro e definido
como o código binário, da informática: ou é zero, ou é um. Não há dois ou
mais. Ou se está ligado, ou desligado. Ou se é salvo, ou se é perdido. Ou se
ajunta, ou se espalha. Ou se é à favor, ou se é contra. Ou se é fiel, ou se
é infiel. Ou se está certo, ou se está errado. Citando novamente os dizeres
do Senhor, ou se ama a Jesus, guardando os mandamentos, ou simplesmente não
se ama.

Você é do tipo que ama a Jesus? Ou nunca lhe passou pela cabeça que o amor,
desejado por Cristo, traduz-se em atitudes, não meramente em palavras? É
fácil demais nos escorarmos na justificação pela fé, mediante a graça do
Senhor. O difícil é entender e aceitar que essa graça, motivada pela fé que
ela nos outorga, produz indubitavelmente um fruto, e esse fruto se chama
obediência. Quem não obedece, ainda não experimentou, de fato, do amor de
Deus em sua vida. O Apóstolo Paulo diz: "o amor de Cristo nos constrange" II
Coríntios 5.14. Se o amor de Cristo não estiver a constranger o nosso
coração, então não houve salvação, nem justificação, nem regeneração, e
estamos perdidos.

E não se está falando aqui de perfeição. Nenhum de nós é perfeito. Nem um de
nós é isento de pecado. Todos tropeçamos e caímos. Infelizmente nós ainda
não alcançamos a perfeição, e nem a alcançaremos enquanto na Terra. Mas
falamos de comunhão: quanto mais próximos do Senhor, mais tocados e
transformados somos, e menos coisas erradas e egoístas praticaremos. Em
comunhão, subimos os degraus da santificação constantemente, e buscamos não
descê-los de novo. Vamos nos esquecendo do que fica para trás, e vamos
prosseguindo, sempre melhorando, sempre vislumbrando um comportamento mais
correto, mais santo, mais justo, mais perfeito. "Mas a vereda dos justos é
como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito."
(Pv 4:18). "Irmãos, quanto a mim, não julgo que haja alcançado a perfeição;
mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e
avançando para as que estão diante de mim, Prossigo para o alvo, pelo prêmio
da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." (Fp 3:13-14)

Mas ainda pecamos, mesmo sendo crentes. Contudo, há uma diferença básica: os
que são regenerados pecam esporadicamente, vitimados pelas armadilhas da
carne, do mundo e de Satanás. E arrependem-se amargamente, logo após a
tragédia, seja ela grande ou pequena. O Espírito Santo nos convence do
pecado (João 16.8). Se somos do Senhor, não teremos paz de espírito em meio
ao erro. A consciência nos acusará, a vergonha nos corará, a tristeza do
Senhor nos enquadrará. Mas é para o nosso bem, "Porque a tristeza segundo
Deus opera arrependimento para a salvação" (2Co 7:10). Seu propósito é
disciplinar, para que não pequemos mais. Deus diz, em Primeira João: "Meus
filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém
pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo." (1Jo 2:1).
E, para fortalecimento maior da confiança que temos no Senhor, encontramos
também: "Porque sete vezes cairá o justo, e se levantará; mas os ímpios
tropeçarão no mal." (Pv 24:16); "Ainda que caia, não ficará prostrado, pois
o Senhor o sustém com a sua mão." (Sl 37:24).

Mas os não-regenerados não se arrependem. Erram, zombam, brincam de enganar
a Deus manhã após manhã, e, não raras vezes, tentam enganar a si mesmos com
uma falsa comunhão, com uma "oraçãozinha-merreca" e um "versiculosinho" por
dia. Irmãos, definamo-nos diante de Deus! Saiamos de cima do muro, e
escolhamos hoje a quem queremos seguir! "Arrependei-vos, pois, e
convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os
tempos do refrigério pela presença do Senhor," (At 3:19). A vitória sobre o
pecado só é possível quando nos rendemos ao Senhor, e render-se significa
recebê-lo como Senhor e Salvador, de verdade, não só da boca para fora. Por
que não fazê-lo agora, aqui mesmo, neste momento?

Digamos, se for o nosso caso: "Senhor, perdoa-me, pois sou escravo do
pecado. Não consigo libertar-me e nem tenho vontade de libertar-me.
Ajuda-me, opera em meu coração, dá-me a fé e o arrependimento necessários,
e, com tua mão, segura bem a minha, conduzindo-me à regeneração pela fé em
Teu nome. Quero amar a Jesus, e, em decorrência disso, guardar os seus
mandamentos, demonstrando todo o meu amor. Por favor, atende-me. Em nome de
Jesus, amém".

Deus nos abençoe!

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
bnovas@uol.com.br

Nenhum comentário: